O Carnaval é uma festa popular, que ocorre em diversos lugares do mundo, mas é especialmente reconhecido e celebrado no Brasil. O Carnaval tem raízes históricas e culturais profundas, com a combinação perfeita entre as tradições locais, influências africanas, europeias e indígenas.
Quer algo mais brasileiro do que isso?
A palavra Carnaval deriva do latim “carnis levale” ou seja “retirar a carne” e, na sua origem, esse significado tem profunda relação com a função da festa, lá nos primórdios: subverter as coisas como são para, temporariamente, serem o inverso. Tratava-se de um período comemorativo onde as pessoas se entregavam aos prazeres carnais, para depois iniciarem a Quaresma, um período litúrgico com duração que varia de 40 a 44 dias, antecede a Páscoa, e é marcado por práticas de penitências, jejuns e obras de caridade.
As raízes do Carnaval são de um momento pré-cristão, com a junção de várias celebrações pagãs, como as Lupercálias e as Saceias - quando um prisioneiro era escolhido para substituir o rei durante cinco dias e, após o festejo, ele era espancado e executado. Todas essas festividades eram regadas a bebedeiras e a prazeres carnais, que seriam fortemente condenados pela Igreja. Assim como na Saceia e no Carnaval, a ideia do “mundo invertido” está presente: durante cinco dias as pessoas se fantasiam de forma a assumirem um lugar que não é delas.
Na Europa medieval, o período também era de subversão da lógica. Pessoas se fantasiavam de animais e usavam máscaras, duas práticas abominadas pela Igreja. Muitas vezes, as festas saíam do controle do ideal proposto pelas autoridades religiosas. No século 16, com a ideia de conter abuso e controlar as massas, a Igreja Católica associada com o poder público proibiram as festas na rua e as peças teatrais - claro que não por muito tempo.
Dessa forma, o Carnaval foi trazido para o Brasil pelos portugueses, no período da colonização. Com a junção dos povos escravizados que aqui estavam e dos indígenas locais, entraram na festa os batuques, os ritmos e a dança. A festividade logo se tornou uma expressão única da identidade brasileira. No início era muito comum as pessoas saírem na rua para sujarem umas às outras com águas mal cheirosas, como urina e lama. Com o tempo, grupos carnavalescos começaram a surgir e ocupar as ruas e os clubes fechados. No começo do século 20, os carros alegóricos, os desfiles e o samba tornaram-se itens essenciais para o Carnaval brasileiro.
Desfiles de Carnaval
As agremiações começaram a se organizar ao longo da década de 20. Antes, era muito comum os blocos saírem às ruas durante o dia com fantasias improvisadas. O primeiro desfile oficial de escolas de samba de Carnaval aconteceu no dia 7 de fevereiro de 1932, na Praça Onze, no Rio de Janeiro, e contou com a apresentação de 19 escolas. Na ocasião, a Mangueira foi campeã. Nos primeiros desfiles, era comum o público se aglomerar nas calçadas, enquanto os jurados e autoridades ficavam em pequenos tablados de madeira, especialmente instalados para a ocasião. Foi só em 40 que as escolas de samba foram oficializadas. A partir de 1960, os desfiles começaram a ser cobrados e São Paulo fez a sua primeira apresentação.
A alta sociedade carioca e famosos começaram a prestigiar os desfiles de Carnaval. A integração dessas figuras foi feita pela Mangueira. Em 70, todas as escolas cariocas se tornaram gigantes, em comparação com as paulistas. Foi nessa década também que as rádios e a televisão começaram a transmitir o evento. Em 84, o Sambódromo da Marquês de Sapucaí foi inaugurado.
Quem viu, viu
De lá para cá diversos desfiles foram apresentados. Sabemos que as escolas de samba se utilizam do desfile para trazer manifestações críticas sobre diferentes temas à sociedade. Numa rápida busca na internet é possível encontrar diversos desfiles que “entraram para história”, como o primeiro desfile que aconteceu no Sambódromo, que foi da Portela homenageando Paulo da Portela, Natal da Portela e Clara Nunes, associando-os, respectivamente, aos orixás Oraniã, Oxóssi, e Iansã; o desfile de 1988 da Vila Isabel, ‘Kizoba, a festa da raça, desenvolvido pelo cantor e compositor Martinho da Vila e pelos carnavalescos Milton Siqueira, Paulo César Cardoso e Ilvamar Magalhães .
Quem viu o icônico desfile da Beija-Flor em 89, não se esquece jamais. Com o enredo ‘Ratos e urubus, larguem minha fantasia’, do lendário carnavalesco Joãosinho Trinta. A imagem do carro alegórico, que retratava Jesus Cristo na cruz não pôde entrar na avenida, de modo que ele foi coberta de lona preta e carregava os dizeres em um cartaz branco: “mesmo assim, rogai por nós”. Mesmo fazendo história, naquele mesmo ano, a Imperatriz Leopoldinense levou o prêmio com o também inesquecível enredo ‘Liberdade, liberdade’.
Após a era de Rosa Magalhães e Paulo Barros, o Carnaval também se revolucionou em quesito estética, iluminação e performance. Quem não se lembra do desfile do Paraíso da Tuiuti, em 2018, sob o comando do carnavalesco Jack Vasconcelos, que trouxe à avenida uma forte critica social com o enredo ‘Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?’, que rendeu à escola o título de vice-campeã naquele ano? O Carnaval carioca também lançou diversos nomes como Quinho da Salgueiro, Neguinho da Beija-Flor, Jamelão, entre outros.
O Carnaval de São Paulo, embora atrás em termos de tradição e alta produção, conforme o crivo de diversos críticos, também fez desfiles que marcaram época, como o da Gaviões da Fiel, em 1994, “A saliva do santo e o veneno da serpente”, que levou o prêmio máximo naquele ano; o “Samba venceu”, da Vai-Vai, em 2011; e, em 2022, a Mancha Verde com o enredo “Planeta água”.
Se você lembrar (ou achar) que algum outro samba-enredo merece destaque, escreva aqui nos comentários. O fato é que existem diversas personalidades, paradinhas, músicas que são memoráveis.
O rei Momo
O rei Momo é o personagem principal no Carnaval brasileiro e colombiano. Sua figura, originalmente, aparece na mitologia grega. Ele é considerado o deus da galhofa, do sorriso. Ele representa festa, cores, dança, brincadeira. Ele traz o espírito do Carnaval. Na tradição, o responsável pela cidade, como prefeitos, xerifes, etc, uma vez ao ano passava a chave daquele local para o rei Momo, que seria o responsável durante os cinco dias, como “dono” do festejo. É como se aquele lugar, durante o período carnavalesco, virasse o reino da alegria, da festa, o reinado de Momo.
Quarta-feira de cinzas
Na quarta-feira de cinzas, tudo volta ao normal. O mundo invertido se converte às convenções e regras cotidianas. Ela marca oficialmente o final do Carnaval. Tem uma relação direta com os conceitos de renascimento e renovação. Para os católicos é um momento muito importante: a Quaresma. Muitos enxergam o período como forma de reflexão, de autoaperfeiçoamento, de mudança de vida. É comum as práticas de penitência, como jejuns e práticas de caridade nesses dias que antecedem a Páscoa.
Esse texto é apenas um recorte bem pequenininho do que decidi trazer sobre o Carnaval. O tema é vasto, a história enorme e as festas gigantes. No Brasil, sabemos que há diferentes formas de Carnavais: em Salvador é de um jeito, em Pernambuco de outro, em Florianópolis, completamente diferente. O que importa é reconhecer e, principalmente, honrar a comemoração. Ela faz parte da nossa história, da nossa cultura. Está tudo bem se você faz parte do time que não gosta, que não curte, que fica em casa. Ótimo se você é do time que adora o feriado para viajar e ficar longe da muvuca. Fantástico se você gosta de se fantasiar, sair para dançar, beber e fazer tudo o que você quiser. Afinal, nessa época, como vimos, tudo pode!
Conta para a gente, como será (ou como foi) o seu Carnaval?
Para escrever esse texto algumas referências foram tiradas de:
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