Minha primeira experiência profissional no Serviço Social foi com adolescentes que enfrentam a realidade da exploração sexual, abusos e negligências, em diferentes e inúmeras esferas: nas casas, nas escolas, nos abrigos, nas casas lares, nos espaços de convivência; instituições que, no geral, deveriam as proteger.
No sistema, são números, pastas. Não há cor, não há medidas, nem histórias. Na vida vivida há quem apanhe, às 8 horas da manhã por não querer transar com um homem velho e pervertido. Têm as que transam por dinheiro, por medo, por ilusão. Têm aquelas que buscam incansavelmente um lugarzinho ao sol, que denunciam, mas que, por muitas vezes, tudo é tão cruel e cheio de burocracia, que de tanto obstáculo no caminho, cansam. E, de tão cansada, um dia, o peso da sua curta e dura vida de 13 anos seja tanto, mais tanto, que esmague todas as possibilidades, fazendo com que não haja mais horizonte e, assim, ela acabe abreviando a sua vida com a própria morte.
Centenas de jovens são aliciadas no Brasil por dia. Centenas!
Sabemos que não é de hoje que o país enfrenta o problema do abuso e exploração sexual infanto-juvenil. O terreno é fértil. Infelizmente os números registrados são ilusórios, já que há uma dificuldade nas denúncias. Já que a criança tem medo de falar. Já que o agressor é conhecido e próximo da família ou faz parte da própria família.
Em meio a um dia comum de trabalho, uma menina que era explorada sexualmente tentou suicídio dentro da instituição e morreu dias depois. Não escrevo para buscar culpados, mas para apontar as vítimas que estão lá, muitas vezes, sem ao menos saber que estão sendo abusadas e exploradas sexualmente.
Até quando vamos fechar os olhos? Até quando vamos tapar os ouvidos para não escutar esses gritos desesperados por socorro? Não pode ser só no dia 18 de maio! Não pode ser em maio! Precisa ser todos os dias. Mas, quantos estariam dispostos a ouvir essas histórias e afrontar todas as contradições que vem com esse gesto? Porque vem! Até quando vamos esperar? Esperar que um dia ela se canse e decida acabar com tudo com um lençol enrolado no pescoço?
Quantas vidas, sonhos e girassóis ainda vão precisar morrer?
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